Inviabilidade técnica pode impedir o último desejo da artista Tomie Ohtake

Artista queria uma criação sua na Av. Paulista (Foto: Divulgação)

A paisagem de São Paulo conta com uma série de criações da artista Tomie Ohtake, que morreu em fevereiro desse ano. As curvas coloridas estão, entre outros cenários, na Avenida 23 de Maio; no metrô Consolação; e no Auditório do Ibirapuera. Porém, um dos logradouros mais importantes do município corre o risco de não receber uma obra da artista, que revelou, durante uma inauguração, o sonho de ter um dos seus trabalhos na Avenida Paulista.

O problema é que a Comissão de Gestão de Obras e Monumentos Artísticos em Espaços Públicos, do Departamento de Patrimônio Histórico, órgão da Secretaria de Cultura do Município, rejeitou a proposta de instalar uma obra da artista japonesa na Praça do Ciclista, no cruzamento com a Rua da Consolação, após um parecer técnico apontar um conflito entre o croqui e a planta, que divergem sobre o local exato de instalação da obra, que teria nada menos que sete toneladas.

O órgão argumenta, ainda, que “há uma incompatibilidade entre a implantação da escultura e o traçado da ciclovia proposta” e que “a escultura é desproporcional à dimensão do traçado urbano existente, prejudicando a leitura do eixo visual”. Do mesmo modo, a Secretaria da Cultura informou que também está em andamento uma “proposta de implantação de obra de arte na Praça do Ciclista, a ser realizada por meio de concurso público, em homenagem aos ciclistas que foram vítimas do trânsito da cidade”.

Diante do impasse, o órgão sugeriu outros locais para a instalação da obra, entre eles, a Praça Panamericana, em virtude da proximidade do Instituto Tomie Ohtake. Porém, a localidade não agradou os responsáveis, por não realizar o sonho da artista.

De acordo com informações colhidas pela reportagem, o desejo de contar com uma obra na avenida mais famosa de São Paulo foi revelado pela artista em setembro de 2013, ao responder uma pergunta durante a inauguração de uma de suas obras na cidade de Santo André, na Grande São Paulo. Diante dessa informação, dirigentes da Associação Paulista Viva, organização da Sociedade Civil de interesse Público e sem fins lucrativos que atua pela melhoria da qualidade de vida, preservação, segurança e valorização da região em questão, procuraram  Ohtake com a proposta que ela fizesse a obra, enquanto todos os encargos para a viabilização da instalação ficariam a cargo do grupo.

Poucos meses antes de morrer, aos 101 anos, a artista entregou a obra em escala reduzida, com cerca de 20 centímetros de altura e com a cor característica dos seus trabalhos, o vermelho, dando outras especificações técnicas. O material foi repassado à Associação, que, por sua vez, conseguiu o patrocínio  de uma multinacional de serviços financeiros para bancar a execução da obra.

Apesar da negativa por parte da Prefeitura, dirigentes da Associação Paulista Viva prometem encontrar uma alternativa. Uma reunião, na semana passada, que contou com a presença do arquiteto e designer Ricardo Ohtake, filho da artista e diretor do Instituto Tomie Ohtake, além de membros do grupo patrocinador, buscou uma solução, inclusive com outros locais, na própria Paulista, sendo apontados como destino. Entretanto, nenhuma decisão, até o momento, foi tomada.

É importante ressaltar que dentre as mais de 50 obras públicas da artista, há sim uma na Avenida Paulista. Instalada desde 2007, em frente ao Edifício Santa Catarina, o trabalho,  que foi projetado pelo outro filho da artista, Ruy Ohtake, entretanto, está em um terreno privado, mas pode ser visto pelo público.

Nascida na cidade de Kyoto, no Japão, em 1913, Ohtake, uma das maiores representantes do abstracionismo no Brasil, mudou-se para São Paulo aos 23 anos e começou a se dedicar às artes somente a partir da década de 1950. Em seu currículo conta com pintura, gravuras e esculturas.

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